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Preços do boi gordo: entenda como esse indicador do mercado agro é formado!

preços do boi gordo

Com uma longa trajetória de experiência, hoje em dia, a indústria da carne é altamente organizada, estabelecendo parcerias entre pecuaristas, frigoríficos e o mercado consumidor. Tal organização possibilitou que o boi gordo se tornasse um ativo financeiro de grande importância no cenário econômico, sendo negociado na Bolsa de Valores brasileira, conhecida como B3. Lá, o mercado futuro do boi gordo, por exemplo, é utilizado como uma forma de gerenciar os riscos das flutuações de preços dessa commodity. No entanto, muita gente ainda tem dúvidas sobre como os preços do boi gordo são formados. Pensando nisso, escrevemos um artigo especificamente sobre o tema!

 

Introdução aos preços do boi gordo

O preço do boi gordo, assim como o de outras commodities (grãos, petróleo, minério de ferro, açúcar, carne bovina, etc.), é estabelecido pelo equilíbrio entre a oferta e a demanda, que pode ser representado graficamente da seguinte forma:

preços do boi gordo, oferta e demanda
Fonte: agrotools

 

Quando a oferta de um produto é significativamente maior que a demanda, naturalmente seu preço tende a diminuir. Da mesma forma, quando a demanda supera a oferta, a tendência é que o preço aumente.

No mercado do boi gordo, a formação dos preços segue essa mesma lógica: leva-se em consideração o volume produzido nas fazendas e frigoríficos em relação à demanda dos varejistas e consumidores.

De um lado, o ciclo pecuário, a aplicação de tecnologias, os fatores climáticos e a rentabilidade do pecuarista afetam o primeiro fator dessa equação: a oferta do boi gordo para abate.

Na outra ponta, a demanda é afetada pelo preço da carne, a renda dos consumidores, o preço dos produtos substitutos como a carne do frango e a preferência dos consumidores.

Portanto, a análise da oscilação da oferta de gado gordo para os frigoríficos (abates) e da demanda por carne bovina tem importância crucial nessa precificação.

Vamos dar uma olhada em alguns dos pontos citados:

  1. Ciclo pecuário: Naturalmente, afeta a oferta de animais para o abate e, assim, determina a formação de preços do arroba. Temos um texto especificamente sobre o tema, mas de forma geral, trata-se de uma situação que pressiona as cotações da arroba para cima ou para baixo de forma cíclica em função do abate e a retenção de fêmeas na fazenda.
  2. Demanda por carne bovina: Como dito, a demanda por carne bovina também afeta a precificação da arroba. De acordo com a lei da oferta e da demanda, quanto maior a oferta de animais para o abate e menor a demanda por carne, mais veremos uma tendência à redução do preço. E, quanto menor a oferta de animais e maior a demanda, mais o preço tende a subir. Assim, se a demanda externa estiver aquecida e muitas plantas frigoríficas estiverem operando para exportação, uma alta do dólar pode fazer com que as exportações fiquem mais atrativas, o que reduz a oferta de boi gordo para o mercado interno, por exemplo.

 

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Já no mercado doméstico, a demanda por carne bovina varia ao longo do ano. No início do ano, o consumo tende a diminuir devido à queda no poder aquisitivo dos consumidores, que direcionam sua renda para pagar dívidas. Além disso, durante a quaresma, há uma redução no consumo de carne bovina, pois os consumidores optam por proteínas alternativas.

Conforme os meses passam, a demanda vai se recuperando. No segundo semestre, o consumo de carne bovina costuma crescer devido às festas de fim de ano, ao recebimento do 13º salário e a datas festivas e feriados que impulsionam a demanda!

  1. Chuvas e fatores climáticos: Para exemplificar como é importante entender a sazonalidade das chuvas e como ela impacta na receita do produtor, vejamos o seguinte caso:

Caio, produtor de Mato Grosso, possuía, em meados de abril de 2022, um rebanho com 600 cabeças de gado com peso médio de 18 arrobas por cabeça (peso pronto para abate). Contudo, Caio achou o preço do boi gordo pouco atraente na época e optou por vender a boiada em maio.

Caio poderia ter comercializado a boiada por R$ 155,00/@ em meados de abril, mas optou por esperar. No entanto, em meados de maio, os custos para manter a boiada engordando subiram pois as condições climáticas pioraram com menos chuvas, menor temperatura e menor luminosidade, de forma que os pastos perderam qualidade. Para não pagar esse custo adicional, Caio teve que vender sua produção pelo preço de mercado, que na época estava R$ 145,00/@.

Essa queda no preço da arroba na comparação entre abril e maio foi ocasionada pelo aumento de oferta de boiadas para abate, pois a mesma motivação que o Caio teve para vender a boiada, como aumento do custo da engorda e pastos secando, também ocorreu com os demais pecuaristas que tinham boi engordando nos pastos.

Assim, se Caio tivesse analisados os fatores que influenciam os preços, poderia ter planejado melhor suas vendas, ciente de que em maio normalmente há concentração de oferta.

Em outras palavras, nos mercado atuais, podemos dizer que muitas vezes os preços do boi gordo são principalmente influenciados pela sazonalidade da produção, ou seja, a oferta é o fator determinante na formação dos preços.

Dessa forma, a curva de preços do boi gordo reflete uma maior oferta de animais bovinos na safra, que ocorre entre dezembro e abril/maio, resultando em níveis mais baixos de cotações.

Por outro lado, nos meses de maio a novembro, há uma tendência de aumento nos preços do boi gordo devido à entressafra. Nesse período, a oferta de gado pronto para o abate é menor devido à escassez de alimentos, o que impacta nos custos de produção e, consequentemente, valoriza o produto final.

Além disso, fatores externos à produção também costumam influenciar os padrões e tendências de preço do boi gordo, como a valorização cambial, mudanças nos hábitos alimentares, aumento ou crise na demanda, problemas sanitários em regiões produtoras e questões comerciais.

 

Qual o papel do CEPEA em meio a tudo isso? 

O CEPEA (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) é uma instituição vinculada à Universidade de São Paulo (USP) que desempenha um papel importante na análise e acompanhamento dos preços do boi gordo e de outras commodities agrícolas.

O CEPEA é conhecido por sua atuação na produção de indicadores de preços agropecuários, incluindo o indicador de preços do boi gordo. Esses indicadores são obtidos por meio de pesquisas de mercado, levantando informações sobre as cotações de compra e venda do boi gordo em diferentes regiões produtoras.

Através de sua ampla rede de colaboradores e parceiros, o CEPEA coleta esses dados e realiza análises e estudos para compreender os fatores que influenciam a formação dos preços do boi gordo. Eles monitoram variáveis como oferta e demanda, sazonalidade, custos de produção, variações cambiais e outros fatores econômicos e políticos que afetam o mercado da carne bovina.

Essas análises e estudos do CEPEA são amplamente divulgados para o público em geral, incluindo produtores rurais, pecuaristas, empresas do setor agropecuário, investidores e tomadores de decisão. As informações fornecidas pelo CEPEA permitem uma visão mais abrangente e embasada sobre os preços do boi gordo, auxiliando na tomada de decisões e na gestão dos negócios relacionados à pecuária bovina. No entanto, há uma questão que merece atenção.

No Brasil, há uma importante diferença em relação aos Estados Unidos. Por lá, toda transação agropecuária é obrigatoriamente informada ao USDA, com dados subjacentes relacionados ao valor e às características do negócio, sob pena de sanções e multas. Assim, quando o pecuarista vende uma carga de gado para o frigorífico, ele tem que informar os valores da nota e as características desse negócio, como idade do gado, sexo, acabamento, rendimento de carcaça, preço, etc, e o frigorífico é obrigado a prestar contas disso.

Neste contexto, a informação do USDA é utilizada pela Bolsa de Valores e dá tranquilidade ao negócio. Já no Brasil, onde temos o CEPEA, as informações são voluntárias, o que acaba gerando distorções nos preços uma vez que tanto os frigoríficos quanto os produtores informam ao órgão quando é mais conveniente a eles.

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Caio Goetze

Formado em Direito pela PUC-RJ e pós-graduando em Direito Digital pelo Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS) em parceria com a UERJ, conta com 3 anos de experiência e diversos cursos de formação acadêmica de bagagem no “criptomercado”.

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