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Ciclo pecuário: o que é e como impacta os preços do boi gordo?

ciclo pecuário

Resumo do ciclo pecuário:

O ciclo pecuário é um fenômeno importantíssimo que ocorre na pecuária de corte, sendo caracterizado pela variação dos preços do gado e da carne ao longo do tempo em razão de diversos fatores inerentes à natureza intrínseca da produção pecuária que veremos a seguir. Em outras palavras, é uma retroalimentação direcionada pelos preços do boi gordo que estimula ou desestimula o produtor a produzir, gerando efeitos que serão sentidos paulatinamente no decorrer do tempo.

Assim, no ciclo pecuário, com base nas leis de oferta e demanda, quando cresce a oferta de bois gordos, os preços naturalmente caem e puxam consigo os preços dos bois magros, bezerros e matrizes. Uma vez pressionados por dificuldades financeiras, os criadores vendem mais vacas para o abate, aumentando a oferta de carne e forçando ainda mais para baixo os preços.

Desta forma, com a redução do número de matrizes, compromete-se a produção de bezerros e também a reposição dos animais do rebanho de cria e a oferta futura de bois para o abate. Com o passar dos anos, essa escassez de bois para abate e de novilhas para reposição das vacas descartadas força a subida dos preços novamente, recomeçando o ciclo. Esta é uma explicação resumida, e você pode ver um diagrama de explicação abaixo:

resumo do ciclo pecuário

 

 

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Imaginemos outro cenário hipotético: aprofundando

Vamos pegar a ponta oposta do ciclo e imaginar que o mercado de pecuária bovina está experienciando um período de escassez de animais de reposição, que são aqueles bezerros e novilhos mais jovens que adquiridos pelos produtores para substituir ou repor animais mais velhos em seus rebanhos. Vejamos como funciona o ciclo pecuário de forma mais completa.

Diante disso, Ricardo, pecuarista, passa a receber boas ofertas por seus bezerros, sentindo-se estimulado não só a vende-los como procurar formas de conseguir ainda mais bezerros para girar a roda e aumentar seu lucro. Pensando nisso, Ricardo destina o maior número possível de vacas para reprodução. Assim, com as vacas voltadas para esse fim, a consequência imediata é a diminuição do volume de matrizes sendo mandadas para abate.

Supondo que estejamos em um cenário onde já existe escassez de bois magros, essa retenção de matrizes irá por consequência favorecer a valorização do boi gordo, uma vez que há poucos animais à disposição dos frigoríficos. Enquanto durar essa retenção de fêmeas e houver baixa disponibilidade de bois magros, portanto, as leis do mercado impulsionarão os preços do boi gordo.

E é justamente esse período de impulso aos preços pecuários que produzirá os elementos responsáveis por resultar na reversão do ciclo, reiniciando a engrenagem. Em suma:

Bezerro caro –>  Mais pecuaristas voltados para atividade de cria, retendo fêmeas –> crescimento dos rebanhos –> barateamento em razão do crescimento da oferta –> chega um momento em que passa a valer mais a pena destinar a fêmea para o abate do que para reprodução –> aumenta o volume de fêmeas à disposição dos frigoríficos –> Ao mesmo tempo, os bovinos nascidos nos últimos anos já estão em idade de abate, crescendo também a disponibilidade de machos –> descarte de matrizes e disponibilidade de machos em idade de abate pressionam as cotações as cotações do boi gordo –> com o tempo, o descarte de matrizes gera diminuição do rebanho de bezerros e volta a valorizá-los, reiniciando o ciclo.

aprofundando no ciclo pecuário

Isso acontece porque, diferentemente do mercado de grãos, onde todo ano há safras, o boi demora para ser produzido. Para termos ideia, hoje, em média, um boi é abatido no Brasil com 34 a 36 meses de idade. Portanto, se aumentarmos o processo produtivo agora, os efeitos só serão sentidos daqui a alguns anos.

 

Peguemos o exemplo prático do caso da Operação Carne Fraca, o “Joesley Day”:

Em 2017, ocorreram eventos impactantes, como a Operação Carne Fraca e o “Joesley day”, que resultaram em uma fase de baixa para o preço do boi gordo, que já vinha em um ciclo de baixa. Essa queda, de aproximadamente 25%, afetou os produtores que haviam adquirido bezerros a preços elevados em 2015. Como consequência, muitos produtores sentiram-se desestimulados e buscaram vender seus animais, incluindo as fêmeas, para fazer caixa.

A venda dessas fêmeas para frigoríficos resultou em uma diminuição na disponibilidade de animais para a produção de bezerros. Como resultado, cerca de três anos depois, ocorreu uma escassez desses bezerros, assim como dos animais prontos para o abate, que seriam formados por eles. Esse cenário foi observado em 2020 e 2021.

No entanto, durante esses anos, os preços da carne estavam em alta, chamando muita atenção na mídia. Isso levou os pecuaristas a reterem as fêmeas, voltando a se interessar por elas. Como resultado, houve um aumento na capacidade produtiva. Assim, em 2022, o setor vivenciou um ano de baixa, com o preço do boi gordo caindo, variando abaixo da inflação. Foi um período desafiador para o bezerro, que sofreu uma queda significativa em seu valor nominal. Esses bezerros são criados e passam a ser comercializados como animais prontos para o abate.

 

Duração do ciclo pecuário no Brasil x EUA:

No contexto brasileiro, o ciclo pecuário, que anteriormente apresentava uma duração média de aproximadamente 8 anos, passou por modificações significativas. Tradicionalmente, observava-se um período de 4 anos de aumento na porcentagem de abate de fêmeas, exercendo pressão sobre os preços do boi gordo, seguido por 4 anos de redução nessa porcentagem, impulsionando os preços. No entanto, ao longo da última década, esse ciclo encurtou-se. Esse fenômeno ocorreu devido ao abate precoce dos animais, resultando em um processo de produção pecuária mais ágil. Podemos perceber, no gráfico abaixo, que o ciclo mais recente, concluído em 2021, teve uma duração de apenas cinco anos.

gráfico mostrando a Duração do ciclo pecuário no Brasil x EUAFonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

 

Já nos Estados Unidos, por outro lado, existem características distintas a serem consideradas. Primeiramente, diferentemente do que ocorre no Brasil, os ciclos são mais longos e não estão encurtando. Isso se deve ao uso intensivo de tecnologia na pecuária, que já remonta a meados da década de 1970 e resultou na diminuição da idade de abate dos animais.

Além disso, desde 1967, o país completou apenas quatro ciclos inteiros, com uma duração média de aproximadamente 12 anos. Atualmente, o ciclo em vigor está em seu oitavo ano de duração, tendo sido iniciado em 2015.

Outro aspecto a ser considerado é o marco cultural utilizado para identificar o início de um novo ciclo. Enquanto no Brasil é comum indicar o início dos ciclos com base no aumento do abate de fêmeas, nos Estados Unidos, a tradição é apontar a inversão do ciclo quando há um aumento na produção de bezerros, ou seja, quando o rebanho começa a se expandir.

Por fim, é relevante destacar que o rebanho nos Estados Unidos está gradualmente diminuindo. No entanto, isso não implica necessariamente em uma redução na quantidade de carne produzida, uma vez que o uso intensivo de tecnologia permite o abate de animais com carcaças cada vez mais pesadas.

 

Considerações técnicas e práticas no Ciclo Pecuário:

Além das fases mencionadas, é importante destacar algumas considerações técnicas e práticas essenciais no ciclo pecuário:

  • Instalações e Infraestrutura:

A construção de instalações adequadas, como currais, estábulos e galpões, é fundamental para acomodar os animais de forma confortável e segura. Essas estruturas devem atender aos requisitos de ventilação, iluminação, higiene e espaço suficiente para garantir o bem-estar animal.

  • Nutrição Animal:

A alimentação adequada dos animais é um fator crucial para o sucesso do ciclo pecuário. É essencial oferecer uma dieta balanceada, rica em nutrientes, minerais e vitaminas, que atenda às necessidades específicas de cada fase do ciclo. Consultar um nutricionista animal e realizar análises laboratoriais dos alimentos utilizados na dieta dos animais podem garantir uma formulação precisa e eficiente.

  • Manejo Sanitário:

O controle sanitário é de extrema importância no ciclo pecuário. É essencial implementar programas de vacinação, vermifugação e controle de doenças, além de adotar boas práticas de higiene nas instalações e no manejo dos animais. A assistência veterinária regular e a monitorização constante da saúde dos animais são fundamentais para prevenir e tratar doenças.

  • Gestão Reprodutiva:

A gestão reprodutiva desempenha um papel crucial no ciclo pecuário. Utilizar técnicas de inseminação artificial, realizar exames de diagnóstico de gestação, controlar o ciclo reprodutivo e adotar práticas de melhoramento genético são estratégias que podem melhorar a eficiência e a produtividade do rebanho.

  • Monitoramento e Registro de Dados:

A coleta e o registro de dados precisos são fundamentais para uma gestão eficiente do ciclo pecuário. A anotação de informações como histórico reprodutivo, ganho de peso, saúde e desempenho dos animais permite uma análise mais detalhada e embasa a tomada de decisões estratégicas.

 

Impacto nos preços do boi gordo:

Como mencionamos, o ciclo pecuário impacta diretamente nos preços do boi gordo no Brasil e também nos EUA, sendo este um ponto em comum. Em anos onde a participação de matrizes no abate cai, sobem as cotações do boi gordo. A recíproca também é válida, e em anos onde cresce a participação das matrizes, caem os preços do boi gordo. Essa dinâmica é assertiva para 9 dos 12 anos da série histórica entre 2012 e 2022 na B3:

gráfico mostrando a variação anual percentual do abate de fêmeas e do preço médio do boi gordo na B3

 

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Caio Goetze

Formado em Direito pela PUC-RJ e pós-graduando em Direito Digital pelo Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS) em parceria com a UERJ, conta com 3 anos de experiência e diversos cursos de formação acadêmica de bagagem no “criptomercado”.

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