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Análise on-chain: como usar os principais indicadores do mercado crypto de forma integrada?

análise on-chain

A maioria das criptomoedas existentes no mercado hoje utiliza blockchains públicas para verificar e registrar dados. Isso significa que essas informações estão disponíveis “na cadeia” (“análise on-chain”) para que todos vejam, a qualquer momento e de qualquer lugar do mundo, podendo fornecer insights interessantíssimos de leitura do momento atual.

Assim, ao longo dos anos, dezenas de métricas e ferramentas analíticas foram desenvolvidas na tentativa de entender melhor os ciclos de mercado, o uso da rede e o comportamento dos investidores.

 

Em suma, portanto, podemos dizer que a análise on-chain refere-se ao método de usar informações de um registro blockchain para determinar o sentimento do mercado e a usabilidade da rede. Mais especificamente, envolve analisar dados de transações e saldos de carteiras de criptomoedas, mas não só isso.

Afinal, se um token não está sendo negociado por ninguém e a maioria de sua oferta circulante é controlada por um punhado de grandes detentores, conhecidos como baleias, provavelmente não é uma boa ideia investir nele, certo?

E como o Bitcoin (BTC) é a primeira criptomoeda do mundo e a maior em termos de capitalização de mercado, muitas vezes seus movimentos de preço podem causar um efeito dominó em todo o resto do mercado. Ou seja, se o preço do bitcoin sobe, também sobem outras cryptos, e vice-versa. Isso, claro, depende inteiramente do contexto, como tudo que falaremos nesse artigo. Aqui, portanto, já recomendamos a leitura sobre como funciona a dominância do Bitcoin!

O fato é que, em razão de tudo o que foi citado, muitos investidores geralmente acompanham de perto a análise on-chain do bitcoin como sendo a principal do mercado. Movimentação das carteiras de baleias, métricas de mineração, MVRV-Z, Múltiplo de Puell, Coin Days Destroyed, Endereços ativos, entradas e saídas de corretora, Reserve Risk… são dezenas de indicadores úteis, mas fique calmo que essa visualização é bem mais simples do que parece!

Antes de começar, é válido ressaltar que basear as decisões de investimento em apenas uma métrica específica pode ser bastante imprudente. É sempre necessário analisar o contexto (tanto crypto, quanto macroeconômico) e fazer uma análise integrada entre diversos indicadores. A gama de recursos disponíveis é extremamente vasta, motivo pelo qual separamos apenas alguns que consideramos bastante relevantes.

Primeiramente, traçando uma leitura mais ampla de longo prazo, uma ferramenta interessante de ser observada é a média móvel de 200 semanas do Bitcoin, que marcou historicamente os fundos do BTC de maneira bastante assertiva.

Na prática, a única vez em que ela foi perdida de forma significativa foi justamente no atual ciclo de baixa, impulsionado pela pressão macroeconômica. Por outro lado, reforçou, juntamente a outros indicadores, uma primeira impressão de boa oportunidade de entrada para os investidores.

 

gráfico mostrando a média móvel de 200 semanas do Bitcoin e sua associação com a análise on- chain

 

E quando fazemos uma leitura integrada com o “desempenho” do MVRV-Z durante o mesmo período, por exemplo, vemos que o “Z-score” do indicador chegou a marcar -0,35, firmando-se de forma sólida dentro da região verde do gráfico e indicando uma relação “extrema” onde o valor realizado (RV) do BTC se encontrava muito acima do valor de mercado (MV), o que também marcou historicamente os fundos de ciclo e fortaleceu a percepção de “boa entrada”, como podemos ver abaixo:gráfico mostrando a leitura do indicador MVRV Z-Score e sua associação com a análise on-chain

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Mas não acaba por aí…

Assim como o MVRV, o NUPL também ajuda a fornecer informações sobre a valorização do bitcoin em relação ao seu “valor justo” e ao sentimento dos investidores.

Com ambos indicadores eventualmente correlacionados, podemos notar que períodos de alta valorização do BTC, onde há uma ganância excessiva (e, portanto, um NUPL elevado), o MVRV-Z também poderá confirmar essa sobrevalorização e ajudar na identificação de possíveis reversões de tendência.

Vejam abaixo como o “toque” do NUPL na região de euforia antecipa essas reversões, mesmo momento em que o MVRV-Z atinge a região vermelha no gráfico anterior. A mesma dinâmica vale para os momentos de baixa.

gráfico mostrando a leitura do indicador NUPL e sua associação com a análise on-chain

 

Para que o artigo não fique tão longo, vamos integrar mais dois principais pontos na análise on-chain: mineração e usabilidade da rede.

 

Sobre o primeiro deles, quando observamos o Múltiplo de Puell com valores muito baixos como os que foram vistos durante o recente “bear market”, a leitura é de que a lucratividade atual dos mineradores naquele momento estava muito abaixo da lucratividade média anual, evidenciando a pressão sobre o setor.

Mas no que isso impacta?

Na verdade, impacta em uma série de coisas. Com uma baixa lucratividade, os mineradores não conseguem manter suas operações funcionais e lucrativas, uma vez que os custos com energia elétrica e com equipamentos de hardware continuam existindo.

Apesar de já termos realizado estudos estimando que o impacto direto de eventuais vendas dos mineradores no mercado não tem potencial tão significativo assim de derrubar os preços como muitos imaginam, as consequências indiretas são inúmeras.

A inadimplência de uma mineradora pode gerar quebras de contrato, falta de pagamentos à empresas que operavam alavancadas e, por tabela, sentem os efeitos e vem a ruir, precisando se desfazer de seus balanços e despejando BTCs no mercado, etc.

O fato é que o monitoramento do setor de mineração é bastante importante. E, não à toa, os momentos de extrema pressão na lucratividade também deram excelentes insights sobre fundos de mercado (e vice-versa). Veja:indicador "The Puell Multiple" e sua utilização para a análise on-chain

 

Sobre esse tema, também é bastante interessante observar o “hashrate” da rede, que indica o total de poder computacional que está sendo empregado para manter a rede operacional e segura. Em momentos de muito estresse do setor, esse hashrate tende a cair, uma vez que muitas mineradoras desligam seus equipamentos e param de operar. Já em momentos onde há lucro abundante, o hashrate costuma subir a todo vapor.

Por fim (neste artigo), é bastante válido ressaltar as métricas de usabilidade da rede. Usando o momento atual e recente como exemplo, onde vimos quedas acentuadas em praticamente todos os indicadores, naturalmente o uso da rede Bitcoin também diminuiu. No entanto, o que vemos de algumas semanas para cá é justamente o contrário:

  1. O número total de transações na Mempool (onde ficam esperando para ser pinçadas pelos mineradores) voltou a subir e alcançou seu maior patamar em 3 anos.
  2. O número de novos endereços e de endereços com saldos diferentes de 0 também voltaram a subir significativamente nas últimas semanas. Já o número de endereços ativos, que subia bastante até 15 de abril, voltou a apresentar acentuada queda desde então.
  3. Endereços com 1 ou mais BTCs alcançaram máxima histórica esta semana, chegando a mais de 1 milhão de endereços.
  4. Endereços com 1000 ou mais BTCs atingiram máxima de 3 meses

Uma dica final é observar como os grandes players, as “baleias”, estão se comportando durante as quedas. Normalmente, vemos um movimento de intensa acumulação onde, quanto mais o preço cai, mais estes gigantes acumulam. Isso pode ser feito observando as movimentações das carteiras destes players, ou ainda por meio do indicador ATS, que expressa o tamanho dos investidores que estão acumulando e como cada “nicho” está se comportando. Quanto mais próximo de 1 (cor mais escura), mais intensa a acumulação daquele nicho.

 

 

Como vemos acima, as baleias (endereços com mais de 10k BTC) vinham acumulando intensamente durante toda a queda do mês de maio. Agora, no entanto, transicionaram de um regime de “acumulação intensa” para um regime “equilibrado” de inflows e outflows. Outros lugares para acompanhar as movimentações de baleias são a ChainExposed e a Whalemap.

Por fim, é praticamente impossível abordar todos os indicadores relevantes em um único artigo. Há uma série de métricas diferentes que mereceriam destaques específicos ao tentarmos ler questões específicas do mercado.

Portanto, indicamos abaixo alguns outros indicadores que podem e devem ser observados para uma análise ainda mais integrada:

  1. Exchange flows: Os “fluxos de exchange” acompanham a diferença no número de moedas sendo enviadas “para” e “a partir de” endereços pertencentes a exchanges. Valores positivos indicam que mais moedas fluíram para esses endereços do que saíram, o que pode antecipar despejos.
  2. Número de moedas dormentes/inativas: Uma alta dormência indica que moedas antigas estão voltando para circulação, enquanto uma baixa dormência significa que as moedas sendo movimentadas não foram mantidas por um período relativamente curto de tempo. Isso nos fornece informações úteis sobre potenciais grandes quantidades de moedas que estão começando a ser movimentadas, um sinal comum de realização de lucros ou indicando um aumento na pressão vendedora. Por outro lado, se houver um grande declínio no número de moedas antigas sendo movimentadas, isso pode indicar uma continuação da acumulação e uma relutância dos usuários em tocar em suas criptomoedas.
  3. Suprimento com ultima atividade há X anos (“Supply Last Active”): este indicador é responsável por destacar qual porcentagem de uma criptomoeda específica permaneceu inativa em transações ao longo de um número X de anos. Essa métrica é importante para nos fornecer detalhes sobre os padrões e ciclos de acumulação. Quando os usuários armazenam e acumulam moedas por mais tempo, essa métrica aumenta de valor, e o oposto ocorre quando os investidores decidem gastar suas moedas mantidas por um longo período.

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Caio Goetze

Formado em Direito pela PUC-RJ e pós-graduando em Direito Digital pelo Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS) em parceria com a UERJ, conta com 3 anos de experiência e diversos cursos de formação acadêmica de bagagem no “criptomercado”.

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