Um dos principais pilares na hora de analisar um criptoativo da perspectiva do investidor deve ser observar a estruturação de seu “tokenomics”, área responsável pelas propriedades econômicas do token daquele protocolo.
É por meio deste estudo que conseguimos avaliar como aquele ativo é emitido, quais benefícios ele é capaz de conferir dentro do ecossistema, se o supply é deflacionário ou não, entre diversos outros pontos. Em suma, a ideia é entender se aquele projeto é economicamente sustentável e se pode gerar bons rendimentos e valorização.
Para entender se a criptomoeda consegue captar todo o potencial valor que aquele ecossistema é capaz de gerar, precisamos naturalmente observar a dinâmica entre sua oferta e demanda.
Por óbvio, se a emissão desse ativo fosse ilimitada e sem nenhuma dinâmica de compensação e redução de oferta, a criptomoeda não teria valor. Por esse motivo, a maior parte dos projetos opta por ter um número máximo de moedas a serem emitidas ou por utilizar mecanismos de “queima de criptomoedas”. A própria Ethereum, por exemplo, queima uma pequena quantidade de ETH para cada transação realizada.
Novas moedas são cunhadas e “queimadas” o tempo todo para manter a estabilidade econômica dentro dos projetos, e é aqui que entra o objetivo do nosso artigo. Iremos nos aprofundar na “queima de criptomoedas”, demonstrando o que isso realmente significa e como essa dinâmica funciona.
O QUE É QUEIMA DE CRIPTOMOEDAS?
Apesar do termo “queima de criptomoedas” não significar literalmente o que a expressão induz a crer, até porque criptomoedas são digitais e isso não seria fisicamente possível, passa exatamente a noção correta de “inutilização” daquele ativo, que será removido de circulação e se tornará inacessível, reduzindo o fornecimento total da moeda.
O QUE ACONTECE QUANDO UMA CRIPTOMOEDA É QUEIMADA?
Para que isso seja feito, na maior parte das vezes, os desenvolvedores do projeto enviam quantidades fixas da criptomoeda em questão para uma carteira digital que não possui chaves privadas, realmente impossibilitando que qualquer pessoa consiga voltar a movimentá-las. Ou seja, como ninguém consegue acessar essa tal carteira, cada token enviado para lá é efetivamente retirado de circulação. Ao tornar a moeda mais escassa, essa queima cria um efeito deflacionário e tende a valorizar a criptomoeda.
No entanto, em alguns casos como o da Shiba Inu, há uma oferta de recompensas para os usuários que queimarem suas criptomoedas por meio de um portal específico. Há também projetos que executam um processo conhecido como “queima de comunidade” ou “Community Burning”, onde solicitam que todos os usuários queimem uma pequena parcela de suas moedas, aumentando o preço relativo de todos os ativos remanescentes.
OUTROS MOTIVOS QUE JUSTIFICAM A QUEIMA DE CRIPTOMOEDAS:
Há uma série de motivos pelos quais os projetos queimam seus tokens:
I – Para valorizar o ativo
Este ponto está intrinsecamente ligado a tudo que já falamos, mas achamos válido reforça-lo tendo em vista que é, de longe, o motivo mais comum para a queima de criptomoedas. Como os projetos costumam ter um limite fixo de ativos totais a ser emitidos, reduzir a circulação ativa a partir da queima ajuda a aumentar os preços das moedas restantes.
Suponhamos, por exemplo, que há 20 tokens valendo US$ 20, totalizando US$ 400. Após queimarmos 4 destes tokens, reduzindo o suprimento, este valor total agora estaria dividido entre 16 ativos ao invés de 20, aumentando o valor relativo de cada moeda. Na maior parte das vezes, essa decisão de “queima de criptomoedas” é realizada pelos desenvolvedores do protocolo e executada pela Direção do mesmo.
II – Proof-of-Burn
Fonte: DataDriveInvestor esquematização de um modelo de Proof-of-Burn
Algumas blockchains utilizam um mecanismo de consenso chamado de Proof-of-Burn, onde os mineradores queimam um percentual de seus tokens para ganhar o poder de minerar o bloco e receber as recompensas. Seu objetivo é resolver o problema dos altos consumos energéticos do Proof-of-Work, reduzindo a energia total necessária para validar as transações.
Desta forma, esses agentes conseguem continuar minerando sem precisar aumentar o total de poder computacional empregado para tal.
III – Para ocultar participação de devs. e/ou baleias
Uma prática que passou a ser mais adotada nos últimos anos foi a queima de criptomoedas com objetivo de “esconder” valores investidos por desenvolvedores iniciais ou por baleias. Ao criar a criptomoeda, sabemos que os desenvolvedores costumam definir uma quantidade total dessa moeda em circulação. A partir deste número, utilizado em conjunto com a queima de criptomoedas, eles conseguem manipular a porcentagem de participação que afirmam ter.
Por exemplo, vamos supor que um projeto “X” tenha 1 bilhão de tokens. Se os desenvolvedores obtiverem 150 milhões de tokens, estarão “holdando” 15% do total, certo?
No entanto, suponhamos que sejam queimados 500 milhões de tokens. Esses desenvolvedores ainda poderiam dizer que possuem “15% do supply original”, o que não é mentira, mas teriam agora, na prática, 30% do total remanescente após a queima.
Ao utilizarem o mecanismo de queima, muitos desenvolvedores mal intencionados conseguem manipular os números para fazer afirmações enganosas a seu favor, dando a entender que possuem muito menos participação total no projeto do que realmente possuem. Esse processo é feito de forma relativamente comum por baleias que investiram nas fases iniciais dos projetos, bem como por desenvolvedores maliciosos.
EXEMPLOS ATUAIS DE QUEIMA DE TOKENS:
Como grandes exemplos atualmente no cenário, podemos citar a Binance Coin (BNB), que possui um mecanismo de “auto-burning” com objetivo de reduzir o supply total em 50% no longo prazo.
Na verdade, a BNB adota um modelo duplo de queima. O primeiro deles consiste em queimar um percentual de BNB utilizado como taxa de gas na BNB Chain. Já o segundo consiste em eventos trimestrais de queima de BNB onde, nesse caso, o mecanismo ajustará automaticamente a quantidade de BNB a ser queimada com base no preço do ativo e no número de blocos gerados na BNB Chain durante o trimestre, oferecendo maior previsibilidade para a comunidade.
Fonte: bnbburn.info
Outro caso famoso é o da Ethereum que, por meio da implementação da EIP 1559, atualizou seu protocolo para que seja queimado um pequeno percentual de ETH em cada transação. Desde então, já foram mais de 2.8 milhões de ethers.
Fonte: Ultrasoundmoney
Impossível não finalizar falando também do falido ecossistema Terra Luna, que queimou 88.7 milhões de token LUNA em novembro de 2021, o que totalizava um montante de US$ 4.5 bilhões à época. Os líderes do projeto classificaram a queima como “um dos maiores token burns de projetos de 1ª camada” da história. A decisão foi tomada pela comunidade.
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