Ocorreu ontem (14/09/2023), a maior oferta pública inicial de ações dos Estados Unidos desde 2021, sendo, obviamente, de uma empresa de tecnologia voltada para o segmento de Inteligência Artificial, que faz o design de microchips, a Arm, cujas ações foram listadas na Nasdaq, tendo suas ações subido nada menos do que 25% no primeiro dia de negociação.
Mais do que idiossincrático, o levantamento de US$ 5 bilhões, seguido por uma valorização desta magnitude, indica uma clara tendência sistêmica de retomada do apetite ao risco por ativos de tecnologia.
Com o valor levantado, a empresa foi avaliada, em seu IPO, a US$ 54,5 bilhões, de forma que, após o pregão, passou a valer US$ 68,1 bilhões em bolsa, com suas ações negociando a 63,5.
De propriedade majoritária do Softbank, com sede no Japão, a empresa conquistou a confiança de gigantes da indústria como Apple, Google, Nvidia, Samsung, Intel e Taiwan Semiconductor Manufacturing, todas tendo manifestado interesse em participar da oferta.
Inclusive, o grupo japonês ainda detém o controle de 90% da companhia, indicando que efetivamente continuam otimistas com o ativo. Além disso, numa reunião final, alguns banqueiros e executivos defenderam o preço das ações acima da faixa comercializada, mas Son (Chairman e CEO do Softbanck) disse que não valia a pena arriscar uma estreia saudável por cerca de US$ 100 milhões em receitas adicionais, informou a Bloomberg News. Com os ganhos de quinta-feira, o valor da participação do SoftBank aumentou cerca de US$ 12 bilhões.
Arm, um acrônimo para Advanced RISC Machines, é uma empresa britânica de semicondutores e design de software com sede em Cambridge, Inglaterra. A empresa se concentra principalmente no projeto da família de arquitetura ARM de unidades centrais de processamento (CPUs).
Além disso, a Arm projeta vários outros chips semicondutores, oferece ferramentas de desenvolvimento de software por meio de marcas como DS-5, RealView e Keil e fornece sistemas abrangentes, plataformas, infraestrutura de sistema em um chip (SoC) e soluções de software.
A Arm é um player vital na indústria de tecnologia, fornecendo tecnologia essencial para grandes empresas como Apple e Nvidia.
A empresa é líder em CPUs e licencia produtos de alto desempenho, baixo custo e eficiência energética para as principais empresas de semicondutores do mundo, com grande foco no mercado de smartphones.
Importante notar que, ao contrário de outras empresas do setor, a Arm não opera as fábricas, faz apenas a parte “intelectual” da cadeia de microchips, que são o design, ou seja, a arquitetura dos chips.
Os produtos da empresa são utilizados hoje por aproximadamente 70% da população mundial, desde smartphones, tablets, smartwatches, termostatos, drones até robôs industriais. A empresa conta atualmente com cerca de 6.000 funcionários em tempo integral e opera em 5 segmentos geográficos.
O problema é que as receitas para o ano fiscal de 2023 (12 meses encerrados em março 2023) caíram para US$ 2,67 bilhões, vindos de US$ 2,70 bilhões no ano fiscal de 2022. A Arm é altamente lucrativa, com uma margem operacional de 25%, gerando US$ 524 milhões em lucro operacional no ano de 2022, mas as ações são negociadas a mais de 100x os lucros.
A Arm gerou a maior parte das receitas provenientes de acordos de licença e royalties. Para o exercício de 23, as receitas de clientes externos foram de US$ 2,0 bilhões, uma queda de 9% A/A.
A empresa, de fato, está com uma dificuldade para crescimento, tal questão residindo no fato de que a principal aplicação de seus chips está no mercado de celulares, porém a empresa já possui um market share quase absoluto – alguns analistas estimam que de cerca de 95% – o que torna bastante difícil o crescimento no setor.
Durante apresentação aos investidores na última quinta-feira, Arm enfatizou suas perspectivas de crescimento em diversos mercados. No sector da computação em nuvem, onde detém actualmente uma quota de mercado de 10%, a empresa disse que prevê uma taxa de crescimento anual robusta de 17% até 2025, parcialmente impulsionada pelos avanços na inteligência artificial.
Uma das suas alternativas é justamente buscar por novos mercados, o que possibilitaria o crescimento do seu Total Adressable Market (TAM), mas, negociando a cerca de 25x a sua receita, nos parece pagar um múltiplo de crescimento extremamente alto para uma missão bastante desafiadora.
Uma de suas fortalezas está em sua qualidade operacional, que sem sombra de dúvidas é grande, com indicadores fundamentalistas bastantes sólidos, sem quase nada de endividamento no seu balanço, com uma saúde financeira altíssima, fato que pode ser observado pelo seu indicador de liquidez corrente de 2,6, e seu ROE, apesar de decrescente nos últimos anos, de 13,8%.
Um risco importante para a empresa é a grande exposição da Arm à China – que atualmente representa cerca de 25% das suas receitas – sendo mais um obstáculo, uma vez que a economia do país asiático enfrenta riscos crescentes de uma desaceleração econômica mais ampla e de redução da procura no meio da guerra econômica com os EUA a escalar para novos níveis, especialmente na indústria de chips.
Além disso, a Ivana Delevska, CIO da Spear Invest, gestora de recursos focada em ativos de tecnologia, disse que a empresa continua não competitiva na área mais promissora do mercado de Inteligência Artificial, a de GPUs.
“A verdadeira oportunidade em IA e muito do valor está nas GPUs (unidades de processamento gráfico), que não é o que a Arm faz. Não será realmente comparável à Nvidia porque eles simplesmente não têm a mesma exposição à GPU”, segundo ela.
Dessa forma, é uma empresa, sem dúvidas, de excelente qualidade, uma belíssima história construída, mas que está inserida em um setor recheado de players gigantes, em que as suas alternativas de crescimento estão limitadas, e cujo seu valuation é bastante exagerado para uma empresa com essa quantidade de desafios.
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