Binance na mira novamente? Exchange é acusada pela Reuters de misturar fundos!

Binance e o relatório da Reuters

Um relatório da Reuters afirma que a Binance, a maior exchange de criptomoedas do mundo, misturou os fundos dos clientes com o próprio capital da empresa em 2020 e 2021, violando as regras financeiras dos Estados Unidos que exigem que o dinheiro dos clientes seja mantido separado.

Três fontes familiarizadas com o assunto (que não foram identificadas) alertaram à Reuters que os montantes envolvidos chegam a bilhões de dólares e que a mistura ocorreu quase diariamente nas contas que a exchange mantinha no Silvergate Bank dos EUA.

Inicialmente, cabem algumas considerações. Em 2018, quando a Binance decidiu lançar várias corretoras locais onde os clientes pudessem comprar criptomoedas com moedas fiduciárias tradicionais, tiveram dificuldades em encontrar um parceiro bancário ideal que os aceitasse.

Então, a Silvergate entrou em cena, oferecendo serviços bancários de crypto para institucionais e tornando-se um dos principais provedores desses serviços. Assim, a Binance abriu 3 contas:

  1. A Binance Holdings, controladora da corretora sediada nas Ilhas Cayman, abriu uma conta para receber suas receitas.
  2. Já os dólares dos clientes tinham como destino uma conta de uma empresa nas Seychelles chamada Key Vision Development, também no Silvergate Bank, controlada pelo CEO da Binance, Changpeng Zhao.
  3. Uma terceira conta chamada Merit Peak

A Reuters alega ter tido acesso a registros bancários datados de 10 de fevereiro de 2021 que mostrariam que a Binance misturou US$ 20 milhões de uma conta corporativa com US$ 15 milhões de uma conta que recebia dinheiro de clientes.

Em suma, teria havido uma simbiose de valores na terceira conta citada do Silvergate Bank (“Merit Peak”), pertencente também a uma empresa controlada por Zhao. Isso porque os dólares excedentes das contas da Binance Holdings e da Key Vision eram transferidos para a Merit Peak.

Feito isso, a Binance converteu dinheiro dessa terceira conta em tokens BUSD, o que pode ser averiguado por meio dos registros na blockchain: foram pelo menos US$ 18 bilhões de BUSD comprados entre janeiro de 2020 e dezembro de 2021. Assim, quando os clientes precisavam sacar seus dólares da Binance, a empresa resgatava as BUSD e recebia dólares da Paxos, que eram depositados na conta Merit Peak no Silvergate Bank. Aí, sim, esses dólares eram distribuídos para outras contas conforme necessário.

Sendo assim, o vice-presidente de comunicações da corretora, Brad Jaffe, esclareceu que as contas em questão não foram usadas para receber depósitos de usuários, e sim para facilitar as compras dos usuários, não tendo havido mistura de fundos em nenhum momento já que se tratam de fundos 100% corporativos. Para esclarecer a situação, Brad traçou a seguinte comparação:

“Quando os usuários enviaram dinheiro para a conta, eles não estavam depositando fundos, mas comprando o token crypto vinculado ao dólar da exchange, o BUSD. Esse processo é exatamente a mesma coisa que comprar um produto da Amazon.”

Alguns ex-reguladores dos EUA, no entanto, criticaram o posicionamento da Binance e alegaram que o argumento foi bastante enfraquecido pelo fato de que as próprias representações anteriores da corretora aos clientes afirmavam que as “transferências” eram “depósitos”. Em outras palavras, desde 2020, o site da Binance informava que as transferências dos usuários em dólares eram “depósitos” que seriam creditados em suas contas de negociação na forma de BUSD.

Ou seja, sendo assim, os clientes foram informados de que poderiam “sacar” seus depósitos como dólar em qualquer momento, e essas representações teriam criado a expectativa de que os fundos dos clientes fossem protegidos da mesma forma que os depósitos em dinheiro tradicionais são. Patrick Hillmann, CCO da Binance, revoltou-se no Twitter com a narrativa criada e alegou que sempre foram bastante claros de que se tratava de compra de BUSD.

publicação no twitter do Patrick Hillmann, CCO da Binance e sua associação com o relatório da Reuters

 

Os ex-reguladores também afirmaram que mover dinheiro entre as contas e converter em criptomoedas poderia ser uma forma de proteger os fundos de impostos nos países em que a corretora opera. Mas é exatamente aqui que, ironicamente, a história pode mudar de figura e, até mesmo, cair “bem” aos olhos do público.

Sabemos que há uma intensificação regulatória contra o fluxo financeiro destinado às criptomoedas nos EUA e que a Binance vem sendo um dos principais alvos do governo norte-americano. Primeiro passo para “validar” as acusações de Patrick Hillman sobre teorias conspiratórias forjadas.

E, além disso, uma outra pessoa ouvida pela Reuters, com conhecimento sobre as finanças do grupo Binance, disse que havia uma segunda motivação para a movimentação do dinheiro e a conversão em criptomoedas: Changpeng Zhao desconfiava dos bancos e temia que suas contas fossem congeladas, então a Binance transformou dinheiro em criptomoedas, “misturando” fundos dos usuários com receitas próprias durante o processo.

Ainda que se entenda ter havido alguma espécie de simbiose financeira, convenhamos, Changpeng Zhao pode sair com a imagem anti-establishment fortalecida da história.

Aguardemos as cenas dos próximos capítulos…

Caio Goetze

Formado em Direito pela PUC-RJ e pós-graduando em Direito Digital pelo Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS) em parceria com a UERJ, conta com 3 anos de experiência e diversos cursos de formação acadêmica de bagagem no “criptomercado”.

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