Quando falamos que a tecnologia blockchain veio revolucionar nossa forma de interação com diversas vertentes sociais, não é somente com relação à descentralização do dinheiro que estamos falando. Apesar de muitas vezes o mercado cripto se manter focado em preço e especulação de ativos, o conceito de descentralização sustenta formas completamente novas de experiência, troca de valor e até tomada de decisões.
Nesse sentido, talvez o exemplo mais simbólico capaz de sintetizar o que estamos afirmando sejam as DAOs, mudando a forma como pensamos as abordagens mais tradicionais não só de administração de empresas, mas também de países e organizações de maneira geral.
O QUE SIGNIFICA DAO?
DAO é o acrônimo utilizado para “Decentralised Autonomous Organization”, ou Organização Autônoma Descentralizada. Em outras palavras, as DAOs vieram para questionar a forma como as organizações atuais pensam seu modelo de estruturação a partir da verticalidade. Com a descentralização, propõe-se novas formas de tomada de decisão que não coloquem uma determinada pessoa no controle de tudo. Podemos dizer, portanto, que é basicamente a descentralização do controle.
A ideia surge a partir do pensamento de que “se o bitcoin pode acabar com os intermediários nas transações e pagamentos online, a tecnologia blockchain pode fazer o mesmo com os intermediários nas empresas. Assim, e se organizações inteiras pudessem existir sem um líder central ou CEO comandando os rumos?
COMO FUNCIONA UMA DAO?
Para que essa dinâmica seja possível, as DAOs são baseadas na tecnologia blockchain e são geridas, normalmente, por meio de tokens de governança nativos. Desta forma, ao comprar e deter esses tokens, o indivíduo ganha a capacidade de votar em assuntos importantes relacionados à organização e decidir os rumos que ela deve tomar, adicionando novas regras, expulsando um membro, alterando normas antigas, destinando um percentual da verba para marketing, entre outros exemplos.
Isso tudo, claro, graças ao uso de contratos inteligentes, que são códigos pré-programados que rodam nessas blockchains para realizar automaticamente determinadas funções assim que um pré-requisito for atendido. Para ficar mais claro, imagine que sempre que um evento X ocorrer, o contrato realiza a consequência Y de forma automatizada.
Desta forma, esses contratos conseguem substituir as estruturas corporativas tradicionais para coordenar os esforços e recursos dos membros em direção aos objetivos comuns da organização. Em suma, podemos dizer que as DAOs codificam as regras responsáveis por conduzir a organização.
Há quem defenda que essa lógica aplicada ao mundo físico seria inviável. A “The DAO”, criada em 2016, acabou fracassando em razão de vulnerabilidades técnicas que geraram um exploit, mas em nada teve a ver com um fracasso na administração essencialmente. No entanto, na outra ponta, muitos acreditam que a ideia de uma organização com controle descentralizado é promissora. Organizações como MakerDAO, Aragon e Colony estão atuantes e buscando ser bem sucedidas.
Em síntese, podemos dizer que as DAOs englobam as seguintes características:
- Ausência de hierarquia: Grande parte das vezes, não há um gerenciamento hierarquicamente vertical, sendo responsabilidade de todos os membros tomar as decisões.
- Acesso aberto: Qualquer pessoa pode ter acesso aos tokens de uma DAO para participar do processo de gerência. Basta ter acesso à internet.
- São democráticas: Os investidores podem propor a adição, alteração e exclusão de regras por meio de votação, assim como os demais tópicos citados.
- Transparência: As regras de uma DAO são armazenadas na blockchain subjacente, onde os códigos são “open-source”. Isso significa que qualquer um pode analisá-lo, além de poder verificar na blockchain de que forma as decisões foram tomadas no passado.
Em 2021, vimos um movimento crescente para que as DAOs fossem usadas em contexto de mobilização para pautas coletivas em tempo real. Observamos a ConstitutionDAO surgir espontaneamente e levantar US$ 47 milhões em Ethereum para tentar comprar uma cópia da Constituição dos EUA em um leilão da Sotheby’s em novembro, definindo pela sua governança de que forma iriam lidar caso vencessem.
Embora levantar os fundos tenha sido uma grande conquista, a experiência expôs as antigas dificuldades de lidar com a influência que grandes contribuintes individuais teriam na governança, uma vez que as DAOs são de aberto acesso, como falamos.
EXISTEM DAOs VOLTADAS PARA NFTS? O QUE É DAO NFT?
Apesar de muita gente desconhecer, existem DAOs de colecionador voltadas para NFTs. Elas funcionam, basicamente, como organizações que reúnem fundos dos investidores para adquirir e emitir Non-Fungible Tokens (NFTs).
Isso porque, para investir em um projeto NFT, pode ser que seja necessário um capital extremamente alto quando falamos das coleções com maior “hype”, dificultando o acesso a investidores menores. Nesse sentido, essas DAOs permitem que diversos indivíduos se juntem e adquiram fragmentos de um mesmo NFT. Um exemplo disso é a DAO APE, uma organização autônoma descentralizada que fraciona NFTs da famosa coleção Bored Ape Yacht Club.
Além disso, há também DAOs voltadas para ajudar na criação de projetos NFTs por meio de governança comunitária, onde os membros da comunidade atuam conjuntamente na tomada de decisões e realizam brainstormings para sugerir ideias sobre os rumos que aquele projeto NFT deve tomar no futuro.