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Análise técnica vs. fundamentalista: qual a melhor escolha?

análise fundamentalista técnica

Análise técnica ou fundamentalista: quem ganha a briga?

Afinal, qual a melhor escolha na hora de analisar e fazer um investimento? Para tentar responder a esta pergunta, vou utilizar uma analogia:

Qual ferramenta é melhor? Um martelo ou um serrote?

Temos como saber, de antemão, qual a melhor ferramenta sem nem ao menos saber onde ou para qual trabalho vamos utilizá-la?

Obviamente que não! Incorremos no risco de escolhermos um pincel de aquarela para pintar a fachada de um edifício.

Portanto, a resposta correta para a pergunta é: depende!

Assim como o martelo e o serrote, a análise técnica e a análise fundamentalista também são ferramentas de trabalho. Ferramentas estas que nos auxiliam na análise de investimentos.

E, assim como as ferramentas de trabalho, ambas as escolas de análise possuem características e propósitos diferentes. E são estas características que irão nos dizer em que situações e para quais objetivos as ferramentas serão melhor utilizadas.

Perguntas como: perfil de risco e do investidor, horizonte temporal de investimentos, tempo disponível para acompanhar os investimentos e, até mesmo, gosto pessoal, são questões a serem levadas em consideração na escolha de qual técnica de análise escolher. No fim das contas, a escolha está muito mais ligada ao investidor do que ao Mercado.

E aqui cabe uma ressalva. Elas não são excludentes. Pelo contrário! Ambas as técnicas são complementares e podem (devem) ser utilizadas em conjunto.

Feita esta breve introdução, vamos agora entender a filosofia e os métodos de cada tipo de análise para, ao final do artigo, sermos capazes de ponderar os benefícios e pontos fracos de cada uma. Assim, você investidor, poderá escolher qual ferramenta utilizar em seus investimentos.

 

OLHANDO O PASSADO PARA PROJETAR O FUTURO…

O futuro, bem… Está no futuro. Não temos como prever com precisão o que acontecerá mais à frente. Entretanto, podemos estimar – utilizando estatística, premissas e projeções – qual o caminho mais provável de se materializar, dentre uma gama de possíveis caminhos futuros.

Portanto, quando analisamos um potencial investimento olhamos para o passado para tentar projetar o futuro.

Até mesmo conceitos básicos de finanças e gestão de carteiras utilizam este critério. O modo clássico de se calcular o retorno esperado e o risco de uma ação é olhar o seu comportamento passado. Calculamos a média dos retornos passados para projetarmos os retornos futuros (esperados) de uma ação; e calculamos o desvio-padrão dos retornos passados para estimarmos qual o risco deste ativo financeiro. Depois, calculamos a correlação histórica entre os ativos e podemos montar um portfólio eficiente utilizando a teoria clássica de Markowitz.

Como montar uma carteira de investimentos?

 

Olhamos o passado para montar uma carteira de investimentos para o futuro. Esperando que, o que ocorreu no passado, irá se repetir no futuro. Aqui não vamos entrar no mérito se esta abordagem está certa ou não.

Agora que vimos de que forma estimamos os riscos e retornos de um ativo financeiro, vamos nos aprofundar em qual técnica cada escola de análise utiliza para chegar em um mesmo objetivo: estimar o retorno futuro de um investimento.

 

ANÁLISE FUNDAMENTALISTA

A Análise Fundamentalista, como o nome sugere, analisa os fundamentos do ativo (no caso de uma ação os fundamentos da empresa) para a tomada de decisão.

Balanço Patrimonial, DRE (Demonstração do Resultado do Exercício), conversa com fornecedores, clientes e management, pesquisa de mercado e concorrentes… Todos estes itens e, alguns mais, são levados em consideração na etapa de análise. Se pudesse resumir em poucas palavras (com o risco de soar superficial e impreciso) diria que se trata de uma Análise Qualitativa, pois estamos preocupados em nos tornarmos sócios por um bom tempo desta empresa.

Da ótica clássica o objetivo é determinar o valuation do ativo. Com ele em mãos, comparamos o seu valor com o valor atual de mercado. Temos 2 instrumentais clássicos para determinar o valuation de uma empresa:

  1. Fluxo de Caixa Descontado (DCF em inglês);
  2. Múltiplos.

 

Se nos aprofundarmos no método de cálculo do DCF, este post (que já é extenso) ficará ainda maior. Entretanto, acredito que o cerne do método foi entendido: olhar o passado para projetar o futuro.

No DCF em específico, o analista olha para o Balanço Patrimonial e DRE dos últimos trimestres (lembrando que a divulgação de DRE de S.A. abertas é feito trimestralmente) e projeta para o futuro as receitas, custos e despesas de hoje até o infinito. Posteriormente traz estes fluxos de caixa a valor presente utilizando uma taxa de desconto.

Eu sei, parece um pouco técnico. Mas, resumidamente, olha-se para as receitas, custos e despesas atuais; estima-se quanto elas irão crescer/diminuir no futuro e, utilizando conceitos de matemática financeira, traz-se estes valores futuros a valor presente (aplicação prática do VPL [Valor Presente Líquido]).

Feitos todos estes cálculos temos o chamado Valor Intrínseco (valuation) de determinada empresa. Então, comparamos o valor encontrado com o valor atual do mercado. Se o valor de mercado for inferior ao valuation calculado, compra! Se o valor de mercado for superior ao valuation calculado, venda! Quanto maior esta discrepância entre os valores, maior a oportunidade de ganhos (tornando curta uma história longa).

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ANÁLISE TÉCNICA

A Análise Técnica, diferentemente da Fundamentalista, não está preocupada com os fundamentos do ativo. Ela se preocupa única e exclusivamente com o seu preço.

O Analista Técnico está preocupado unicamente com o gráfico de preços. O motivo disso é um dos pilares da Análise Técnica, a Teoria de Dow, a qual preconiza que os preços descontam tudo! Ou seja, todas as informações a respeito daquele ativo já estão incorporadas ao seu preço.

Em outras palavras, o gráfico de preços já reflete todas as informações disponíveis.

Novamente, sob o risco de soar superficial e impreciso, diria que se trata de uma Análise Quantitativa. Não estamos preocupados com a qualidade daquela empresa e nem queremos nos tornar sócios dela. Apenas estamos interessados em especular em cima dos seus preços.

Como já foi dado o spoiler, a principal ferramenta da Análise Técnica é o gráfico de preços. Aqui também olhamos para o passado para tentar “prever” qual será o futuro. Porém, ao invés de olharmos para receitas, custos e despesas; analisamos padrões de comportamento, expressos em padrões nos gráficos. Estes padrões tendem a se repetir ao longo do tempo. E, sabendo de antemão, qual o movimento futuro mais provável após a ocorrência de tal padrão (baseado em estatística), podemos tomar uma decisão de investimento baseado nesta informação.

Neste tipo de análise não temos utilização de matemática financeira, nem a necessidade de estimarmos fluxos de caixa futuros. À primeira vista pode até parecer uma análise mais simples e superficial. Entretanto, temos muita estatística e estudo de probabilidades envolvidas neste tipo de análise.

Por se tratar de identificação visual, este tipo de análise exige uma maior aptidão (que vem com a experiência) na identificação de padrões. Em um primeiro momento o gráfico parece confuso e nenhum tipo de informação pode ser extraída dele. Porém, com o tempo, os padrões se tornam muito claros e o analista consegue captar qual a “história” o movimento de preços está contando e, assim, estimar qual a maior probabilidade da direção dos próximos movimentos: para cima ou para baixo.

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QUAL A MELHOR ESCOLHA?

Agora que vimos, superficialmente, como funciona cada tipo de análise, podemos partir para a etapa final e determinar quais os pontos fortes e fracos de cada uma. Assim, podemos fazer uma escolha mais assertiva de qual método utilizar em nossos investimentos.

 

Análise Fundamentalista

Pontos Fortes:

  1. Gera maior ancoragem, ou seja, menos suscetível a ruídos e notícias de curto prazo;
  2. Baixa necessidade de constante monitoramento do mercado e das posições em aberto;
  3. Filosofia de investimento mais alinhada à investidores institucionais;
  4. Pode ser utilizada tanto como estratégia para ganho de capital quanto de renda (dividendos).

 

Pontos Fracos:

  1. Necessidade de conhecimento aprofundado da empresa e setor analisados (no caso de optar por não investir em Fundos de Investimento);
  2. Necessidade de adaptação do modelo para setores específicos (exemplo techs);
  3. Necessidade de conhecimento de matemática financeira;
  4. Grande dispêndio de tempo e coleta de informações;
  5. Grande sensibilidade à subjetividade do Analista, principalmente no tocante à Taxa de Crescimento da Perpetuidade (g) e Custo de Capital (WACC);
  6. Necessidade de constante atualização do modelo;
  7. Grande susceptibilidade à ocorrência de Cisnes Negros;
  8. Tempo maior para convergência do preço de tela para o valuation encontrado.

 

ANÁLISE TÉCNICA

Pontos Fortes:

  1. Baixa dispêndio de tempo e coleta de informações;
  2. Não exige conhecimento específico de modelos de negócio das empresas, dos setores analisados e de matemática financeira (entretanto friso a importância do investidor possuir estes conhecimentos, além de macroeconomia, para melhorar ainda mais a assertividade das operações);
  3. Grande versatilidade (pode ser utilizada para diversos ativos e classes de ativos);
  4. Conceito universal (ao analisar o gráfico de uma Petrobras ou de uma Apple, a interpretação é a mesma; agora analisar o DCF de uma Petrobras e de uma Apple é completamente diferente);
  5. Excelente para determinar o timing de entrada e saída de posições;
  6. Método facilmente rastreável, ou seja, é relativamente fácil criar estatísticas, gerar track-record e rodar backtests;
  7. Em comparação com o método de DCF, é mais fácil programar algoritmos de execução.

 

Pontos Fracos:

  1. Se utilizado gráficos muito curtos, altamente suscetível a ruídos e notícias de curto prazo, ocasionando overtrading;
  2. Dependendo do horizonte temporal adotado, necessidade de constante monitoramento do mercado e posições em aberto (daytrade);
  3. Grande sensibilidade à subjetividade do Analista, principalmente no tocante à identificação e validação dos padrões gráficos;
  4. Grande dependência do timing correto na entrada e saída das operações (inviável para grandes posições e investidores institucionais);
  5. Não é ideal para construção patrimonial (particularmente acho difícil construir patrimônio com esta técnica, acho muito mais viável o investidor já possuir um certo capital e utilizar a Análise Técnica para rentabilizá-lo);
  6. Estratégia mais alinhada à especulação (honestamente não sei se isto é um ponto positivo ou negativo).

 

Para o investidor sem muito tempo para monitorar os seus investimentos, preocupado com a construção patrimonial no longo prazo e avesso à especulação, a Análise Fundamentalista estaria mais alinhada a seus interesses.

Apesar de exigir conhecimentos de matemática financeira e conhecimentos específicos do setor analisado, podemos contornar este problema ao delegar estas tarefas a um time de profissionais: uma casa de research independente como nós do Hub do Investidor, ou aportando em Fundos de Investimento.

Para o investidor com mais tempo para monitorar os seus investimentos, voltado para resultados de curto e médio prazo e entusiasta da especulação, recomendamos a Análise Técnica. Entretanto, aqui entram conhecimentos específicos de plataformas e agilidade operacional.

Porém, podemos ir por uma terceira via também. Combinando ambas as técnicas. O investidor pode muito bem ter uma alocação estratégica, visando o longo prazo e olhando para os fundamentos das empresas, e ao mesmo tempo, destinar um percentual da carteira para alocações táticas, visando oportunidades pontuais no curto prazo, se aproveitando do market timing e dos ciclos de mercado.

A escolha da ferramenta está muito mais ligada ao investidor em si do que ao Mercado. Não existe melhor ou pior, existe o que se adequa melhor ao seu perfil e objetivos. Portanto, antes de iniciar os investimentos, procure se conhecer melhor e listar quais são os seus objetivos e necessidades.

 

Nós do Hub do Investidor, te recomendamos as melhores opções do mercado de renda variável, renda fixa e até criptomoedas.

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Ricardo Penha

Desde 2011 no mercado financeiro. Com MBA em finanças, pelo Insper. Ocupou por mais de 7 anos a área de estratégia e finanças da Ambev. É um dos fundadores do Hub do Investidor e atua levando a melhor experiência de investimentos aos clientes.

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