O que mudou na Ethereum dentro de 1 semana após o Merge?

The merge - créditos da imagem https://comlimao.com/
Fonte: https://comlimao.com/

 

Na madrugada do dia 15 de setembro, a rede Ethereum alterava seu mecanismo de consenso de Proof-of-Work para Proof-of-Stake e deixava de lado o alto gasto energético utilizado anteriormente no processo de mineração. Esse e outros efeitos pós Merge já começam a ser observados.

Por esse motivo, resolvemos fazer um overview do que já aconteceu neste tempo. Acompanhe!

Por esse motivo, resolvemos fazer um overview do que já aconteceu neste tempo. Acompanhe!

 

1) Diminuição no gasto energético pós Merge

Como dito, essa é a primeira mudança lógica quando se fala em abandonar a mineração. Ao deixar de lado um mecanismo de consenso voltado para utilizar hardwares especializados e potentes que demandam um alto gasto energético para realizar um processo de “tentativa e erro” na hora de minerar blocos, a Ethereum caminha em direção a uma rede mais ecologicamente sustentável, por assim dizer.

Uma boa analogia para a mineração é pensar em cadeados com sequências numéricas. Não existe uma fórmula matemática que, se resolvida, seja capaz de abri-lo. O único modo é tentar, na marra, descobrir a sequência correta tentando cada uma das combinações. Assim, tecnicamente falando, os mineradores precisavam acertar qual o valor “nonce” que geraria um valor “hash” específico com uma certa quantidade de zeros no início da string. Mais ou menos a mesma dinâmica.

E é aí que o fator “consumo energético” entrava em jogo para nutrir esse processamento responsável por ficar realizando os “chutes”. Tudo isso dentro de um ambiente de competição entre os mineradores para ver quem conseguiria realizar o processo primeiro. O novo modelo utilizado, Proof-of-Stake, é energeticamente muito mais eficiente do que o seu antecessor por não utilizar essa dinâmica e, por consequência, não demandar esse alto consumo.

Podemos sintetizar a ideia dizendo que, em Proof-of-Work, a rede era garantida por recursos energéticos e, em Proof-of-Stake, passa a ser garantida por recursos financeiros.

Justin Drake, um “researcher” da Ethereum Foundation, estimou que essa alteração reduziria o consumo global de energia em 0.2%. O que será que conseguimos ver desde já?

De acordo com o Digiconomist, plataforma disponibilizada pelo próprio site da Ethereum, observamos que até o dia 14 – um dia antes da modificação, portanto – a rede consumia aproximadamente 77 TWh por ano, valor que caiu drasticamente dali em diante para atuais 0.01 TWh/ano.

 Consumo de energia após a implementação do the merge
Fonte: Digiconomist – Ethereum.org

 

Para efeitos de comparação, lembro que realizamos uma live para nossos assinantes no dia 07 de junho onde o consumo energético da Ethereum era de 91 TWh/ano, comparável ao das Filipinas à época.

Enquanto isso, a pegada de carbono estava na casa de 51.01 Mt CO2/ano, próxima à da Suécia. Atualmente, pós Merge, a comparação factível é a seguinte:

Consumo energético da Ethereum após o The Merge Pegada de carbono da Ethereum após o The Merge

Fonte: Digiconomist – Ethereum.org

2) Redução na emissão e supply após o The Merge

No entanto, o impacto mais interessante que já podemos ver após o The Merge é na taxa de emissão de ETH. Constatamos que a rede reduziu drasticamente a quantidade de novos ETH emitidos a cada bloco. A longo prazo, devido ao mecanismo de queima de tokens introduzido com a atualização EIP-1559 desde antes do Merge, existe a possibilidade de que isso, aliado às mudanças no consenso, torne a Ethereum deflacionária.

Até o momento da redação deste artigo, essa deflação ainda não foi alcançada, e vimos 4.774,95 novos ETH sendo emitidos nesta última semana desde o Merge. No entanto, essa quantidade ainda representa aproximadamente 95% menos ethers (ETH) sendo emitidos em comparação ao que teria sido sob o mecanismo de Proof-of-Work, que teria gerado novos 91.732,76 ETH.

Abaixo, o percentual de emissão comparativo entre três cenários: em branco-tracejado a quantidade de Ethers (ETH) que teriam sido emitidos sob Proof-of-Work. Em laranja, a emissão de novos bitcoins e, em azul, a emissão de novos ETH sob Proof-of-Stake após o The Merge.

The Merge e o percentual de emissão comparativo entre três cenários: em branco-tracejado a quantidade de Ethers (ETH) que teriam sido emitidos sob Proof-of-Work. Em laranja, a emissão de novos bitcoins e, em azul, a emissão de novos ETH sob Proof-of-Stake após o The Merge.

Fonte: ultrasound.money

 

Proof-of-Stake: Ao estimar esses dados em uma perspectiva dos últimos 413 dias, por exemplo, constatamos que o crescimento do fornecimento de ETH (“supply growth”) sob o novo mecanismo totalizaria 1.41% negativos ao ano, atingindo deflação a partir de uma baixa emissão (603K ETH/ano) e da queima de ETH (2.326K ETH/ano).

Proof-of-Stake
Fonte: ultrasound.money – Proof-of-Stake

 

Já em Proof-of-Work, o crescimento do fornecimento seria de 2.13% positivos no mesmo período em função da altíssima emissão de 4.931K ETH/ano.

Proof-of-Work
Fonte: ultrasound.money – Proof-of-Work

 

3) Validadores

Com o abandono do sistema de mineradores, a Ethereum deu início a novas “figuras” responsáveis por manter a cadeia operando de forma íntegra: os validadores. Já abordamos em outro artigo as discussões acerca da possível centralização que o Merge poderia gerar. Caso tenha interesse sobre o tema, convidamos você a lê-lo!

No entanto, dado o fato de que temos visto circular novamente algumas afirmações equivocadas, vamos também trazer algumas novas questões à mesa.

Uma matéria afirmando que apenas 2 endereços são responsáveis por controlar 46% de todos os nodes processando transações na Ethereum pós Merge foi amplamente divulgada nos últimos dias. Seus dados são oriundos da Santiment, empresa especializada em análise de cripto. Mas ao dissecarmos a afirmação, vemos que a situação não é bem essa. O que o relatório fez foi rastrear as carteiras da Ethereum que receberam as recompensas das validações depois de emitidas, e não as operações desses validadores em si.

Ou seja, o estudo avaliou o que esses validadores fizeram com as recompensas que obtiveram pelo seu trabalho, constatando que houve muitos envios para as mesmas carteiras, o que não significa que esses nodes são operados pelo mesmo indivíduo.

Na verdade, as três maiores carteiras (responsáveis, respectivamente, por acumular 28.97%, 16.18% e 8.32%) são justamente as carteiras que recebem recompensas da Lido, da Coinbase e da Kraken respectivamente.

validadores da Ethereum pós Merge

Fonte: https://finbold.com/

 

Esse percentual de recompensas, por sinal, é muito próximo ao percentual de penetração na rede de cada uma dessas entidades. A Lido hoje tem 30.31% do total de ethers (ETH) em stake, enquanto Coinbase tem 12.68% e Kraken 8.62%. Ou seja, dentro de um percentual de margem de erro compatível.

percentual de recompensas

Fonte: https://www.rated.network/

 

Vale lembrar que Lido, Coinbase, Kraken e companhia não são os validadores em si! Atuam basicamente como pools de staking para permitir que aqueles investidores que não tem os 32 ETH necessários para o processo de validação, também consigam participar. Sendo assim, essas plataformas redirecionam os ethers (ETH) stakados pelos usuários para validadores terceirizados.

E, se observarmos mais a fundo esses terceirizados, notamos que, somente na Lido, há 28 desses validadores operando sob a essa dinâmica, e nenhum deles possui uma penetração maior do que 5.66%.

 

4) Outros pontos relevantes: Clients e Nodes

  • Clients: Basicamente, após o Merge, os clients de consenso e execução precisam ser executados conjuntamente para que o usuário tenha acesso à rede. Hoje, temos basicamente 4 clients de execução e 5 clients de consenso em operação:

Execution clients pós MergeConsensus clients pós The merge
Fonte: https://clientdiversity.org/

 

  • Nodes: Além disso, ao contrário do que muita gente previa, aparentemente o Merge estimulou o surgimento de novos nodes na rede: nos últimos 7 dias, um crescimento de 5.32%, totalizando 10.538 “nós” de acordo com o Etherscan. Já pelas métricas do ethernodes.org, o número é de 8339. O fato é que, desde o fim de agosto, o número de nodes cresceu vertiginosamente e, mesmo pela métrica mais “pessimista” da ethernodes, praticamente dobrou.

Node stats


Fonte: Etherscan

 

Após uma semana de operação da Ethereum sob Proof-of-Stake, podemos observar que tudo está operando funcionalmente como o planejado.

Nenhum incidente relevante, alta participação na rede (98.7%), alta redução no consumo de energia elétrica (aproximadamente 99.8%), alta queda no supply growth comparativo pós Merge (aproximadamente 95%) e também na emissão anual comparativa entre PoW e PoS (queda de aproximadamente 87%).

Além disso, vimos um aumento expressivo no número de nodes da rede que, por sinal, é assegurada economicamente por aproximadamente US$ 18,5 bi no momento.

 

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Caio Goetze

Formado em Direito pela PUC-RJ e pós-graduando em Direito Digital pelo Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS) em parceria com a UERJ, conta com 3 anos de experiência e diversos cursos de formação acadêmica de bagagem no “criptomercado”.

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