Classificado pelo Nubank como um “token de utilidade” dentro de uma espécie de programa de fidelidade que usa blockchain e tokenização, a Nucoin (NCN) foi lançada no dia 1º de março deste ano e distribuída gratuitamente para os clientes elegíveis do programa de fidelidade da fintech.
O Nubank, inicialmente, destinou pelo menos 50 NCN para cada participante do programa que seguiam os critérios estabelecidos, além de desenvolver, posteriormente, sorteios com premiações em dinheiro para quem fizesse “hold” do ativo até outubro.
Recentemente, o ativo voltou a estampar as manchetes de diversas matérias jornalísticas depois de subir mais de 2.000% em poucos dias, levando o Nubank a suspender as negociações no último sábado (12) em razão do excesso de demanda gerado pelo token, levando os investidores a almejar potenciais valorizações ainda maiores. O Nubank negou o rumor de que a alta do ativo poderia ter sido causada artificialmente em razão de algum problema no app.
Diante de tanto interesse e de tantas dúvidas sobre o token, resolvemos escrever este insight analisando minuciosamente todos os aspectos relevantes sobre a NuCoin:
1) Afinal, NuCoin é criptomoeda?
2) Nucoin tem blockchain própria? Como a NCN é criada e quem serão os validadores?
3) Como faço para obter Nucoins? Quantas irei receber?
4) Qual a finalidade dessas Nucoins? Vale a pena participar?
5) Tokenomics
6) Vale a pena investir na Nucoin?
1) Afinal, NuCoin é criptomoeda?
A resposta pode ser polêmica: Não e sim! Filosoficamente, uma criptomoeda tem como principal pressuposto a descentralização, de forma que a NuCoin, por definição, não seria enquadrada como uma criptomoeda.
Como citamos, a NuCoin é classificada pelo próprio Nubank como um token de utilidade desenvolvido pela fintech em parceria com a Polygon, uma rede de segunda camada da Ethereum que funciona como uma espécie de canivete suíço de soluções de escalabilidade.
Em outras palavras, digamos que a Polygon é uma empresa com vários projetos diferentes em seu ecossistema, sendo capaz de fornecer soluções diversas, sendo uma delas a criação de blockchains, ou seja, de redes distribuídas de computadores para transação de criptomoedas, especializadas para grandes empresas.
Isso significa, na prática, que o Nubank se juntou com a Polygon para usar esse serviço no intuito de criar sua própria rede, onde oferece a NuCoin. Este ponto é importante, pois a NuCoin não está hospedada na Polygon como muita gente imagina!
Por outro lado, o pilar da descentralização no ecossistema crypto é multifacetário e, por vezes, bastante subjetivo. Há diversas criptomoedas descentralizadas em um aspecto, como no mecanismo de consenso, e centralizadas em outros aspectos, como a governança, por exemplo. Por essa ótica, há quem considere a Nucoin como uma criptomoeda.
Um ponto de alerta bastante importante de ser mencionado consiste no fato de que o contrato inteligente do token não foi disponibilizado ao público. Aliás, nada relacionado à blockchain da Nucoin foi abertamente disponibilizado, o que é algo totalmente contraditório com o próprio ethos de transparência de uma blockchain. Não há, até o momento, nenhuma ferramenta para consulta e interação com a blockchain da Nucoin. Não à toa, há um tópico na comunidade do Nubank que discute exatamente isso:
Dito isso, utilizaremos como base as informações fornecidas pela própria Nubank, partindo da premissa de sua confiabilidade. A fintech afirma que para garantir a segurança da própria blockchain, o código de seus smart contracts foram todos auditados pela Hexens, empresa especializada em revisão de smart contracts.
Todas as transações de Nucoin serão transparentes e disponíveis na blockchain, podendo ser visualizadas através de um explorador de blocos próprio que será disponibilizado em breve.
2) Nucoin tem blockchain própria? Como a NCN é criada e quem serão os validadores?
Antes de mais nada, vale esclarecer que o Nubank desenvolveu a Nucoin como um token nativo em sua própria blockchain privada, utilizando as tecnologias “Polygon Edge” e “Polygon Supernets” da Polygon!
Lembram que falamos sobre um dos produtos da Polygon ser a possibilidade de criação de blockchains?
Assim, o papel da Polygon é justamente permitir que os aplicativos descentralizados sejam executados de forma mais rápida e barata. Em outras palavras, a Nucoin usa a Polygon para melhorar sua escalabilidade e eficiência, processando mais transações por segundo e com taxas mais baixas.
Além disso, diferentemente do Bitcoin que valida as transações por meio de Proof-of-Work (mineração) e da Ethereum que utiliza o Proof-of-Stake, a blockchain da Nucoin utiliza um mecanismo de consenso chamado de Proof-of- Authority (PoA), onde um seleto grupo de participantes validam as transações da rede com base na sua credibilidade, mecanismo que utiliza menos energia, mas que abre mão da descentralização. Sejamos justos: dada a natureza da Nucoin, esta é uma escolha que faz sentido.
E, inicialmente, o Nubank será o único validador da rede, mas gradativamente veremos novos agentes participando do processo, o que pulverizará relativamente o número de players e fará com que o Nubank deixe de ter a maioria dos validadores.
3) Como faço para obter Nucoins? Quantas irei receber?
Há algumas formas de obter Nucoins. Além de comprar o token NCN diretamente pelo app da fintech, o Nubank oferece uma espécie de cashback em Nucoins sempre que utilizarmos seu cartão de crédito e/ou débito, ou quando comprarmos criptomoedas pelo aplicativo.
Vale o adendo de que nem todos os gastos no cartão geram Nucoins: doações, recargas, pagamentos de boletos, Nupay, Pix no crédito ou débito, pagamentos de taxas, juros ou impostos não serão considerados.
Provavelmente, você está se perguntando como funciona essa dinâmica e qual a proporção de nucoins que receberá por real gasto. Essa é uma excelente pergunta, e a resposta dependerá de alguns fatores. Isso porque a Nubank criou um modelo de ranqueamento em níveis que vão do 1 ao 7, onde as recompensas vão subindo conforme o nível do usuário.
E para subir de nível, basta congelar as suas “NuCoins” dentro do aplicativo do Nubank. Isso significa que o usuário vai precisar pegar as NCN que recebeu/comprou e deixá-las travadas durante um período de pelo menos seis meses. Naturalmente, quanto mais Nucoins travadas, mais o usuário avança. Para avançar do nível 1 ao 2, por exemplo, basta congelar 50 NCN. Vale dizer que, no nível 1, o usuário não recebe nenhuma Nucoin por real gasto.
Já para atingir o nível 7, o cliente precisa ter travado 500 mil NuCoins. Atingindo esse patamar, o usuário vai ter acesso a 1 NuCoin para cada real gasto. Ou seja, caso faça uma compra de 1000 reais no cartão de crédito, receberá de volta 1000 Nucoins. Além disso, usuários do nível 6 e 7 terão acesso a uma comunidade exclusiva para debates sobre criptomoedas e sobre os rumos da NuCoin, o que sinceramente parece um atrativo bem fraco.
4) Qual a finalidade dessas Nucoins? Vale a pena participar?
A cada 50 NCN congeladas, o usuário receberá 1 cupom da sorte para concorrer a prêmios de até R$ 1 milhão de reais em sorteios. Assim, o intuito da Nubank é gerar um processo que se auto-fomenta como uma espécie de bola de neve.
Basicamente, há um estímulo de alguma forma interessante para que os usuários congelem suas nucoins atraídos por subir de nível e acumular cada vez mais nucoins por real gasto, congelando cada vez mais tokens e gerando mais cupons para participar dos sorteios, aumentando suas chances de sucesso.
Em outras palavras, com cada vez mais estímulos para manter os tokens congelados, estando fora de circulação, em tese, diminui-se a pressão de venda. Enquanto isso, na outra ponta, há possivelmente um aumento na demanda por esses tokens, fazendo não só com que o ativo valorize, mas deixando a bola de neve cada vez maior.
No entanto, para que haja realmente uma continuidade de aumento na ponta da demanda, o Nubank precisa buscar novos incentivos e recompensas para os usuários, como afirmam já estar fazendo e como é estabelecido no “litepaper” ao abordar a dinâmica dos “Patrocinadores”.
Patrocinadores?
Pois bem, uma coisa que é bem pouco falada, é que essa dinâmica de congelamento não se restringirá apenas ao Nubank. A ideia é que ela funcione como uma espécie de “voto” para o seu patrocinador favorito. No caso, como atualmente há apenas o Nubank como “primeira marca patrocinadora”, podemos falar apenas sobre os benefícios disponibilizados por ela, que são aqueles mencionados no tópico anterior. No futuro, no entanto, novos players entrarão na dinâmica oferecendo benefícios próprios que serão dados em troca do congelamento.
Hoje, tendo apenas o Nubank como patrocinador, que oferece aos usuários apenas uma participação em sorteios, a imprevisibilidade de qualquer tipo de retorno além das próprias Nucoins, cujo valor de mercado é totalmente incerto, pode repelir muitos usuários, que optariam por utilizar algum cartão de crédito que dê pontos de milhas ou cashback em dinheiro fiduciário, expondo-se somente à variação do real, por exemplo.
5) Tokenomics
Um total de 100 bilhões de Nucoins foram criados inicialmente e serão distribuídos em 3 diferentes reservas, como podemos ver na imagem abaixo. Desse total, 80 bilhões poderão ser distribuídos exclusivamente aos usuários finais das marcas patrocinadoras, e essa distribuição ocorrerá de forma gradativa ao longo dos anos.
- Tesouraria do Nucoin: A Tesouraria usará uma parte dos Nucoins ao longo do tempo para pagar pelos custos de desenvolvimento, manutenção e expansão do projeto. Essas despesas incluem salários e incentivos do time (até 5% sujeitos a restrições específicas), infraestrutura, marketing e parcerias.
- Reserva Inicial dos Patrocinadores: Inicialmente, cada patrocinador é alocado um lote com um número fixo de Nucoins da Reserva Inicial dos Patrocinadores. O tamanho do lote pode variar em função da base de usuários que o Patrocinador deve trazer ao programa, assim como do momento de adesão do Patrocinador. O Nubank, como primeiro Patrocinador, terá 25% da Reserva Inicial dos Patrocinadores, ou 5 bilhões de Nucoins para distribuir.
- Reserva Diária dos Patrocinadores: Nucoins desse pool são distribuídos diariamente, inicialmente a uma taxa de cerca de 16,4 milhões de Nucoins por dia, durante os primeiros 2 anos. A cada 2 anos, essa taxa é reduzida em 20%, sendo de cerca de 13,1 milhões de Nucoins diários nos anos 3 e 4, 10,5 milhões de Nucoins diários nos anos 5 e 6 e assim sucessivamente. O lote a ser distribuído diariamente passa inicialmente por um processo de queima (“burn”) em que uma parcela dos Nucoins do lote diário é destruída enquanto poucos Patrocinadores participam da distribuição diária. Como exemplo, se somente 30% da Reserva Inicial dos Patrocinadores tiver sido distribuída, todo dia cerca de 11,5 milhões de Nucoins do lote diário serão queimados, deixando somente 4,9 milhões de Nucoins disponíveis para os Patrocinadores distribuírem.
Na prática, isso significa que, considerando os 100 bilhões de tokens NCN e os R$ 0,21 centavos da máxima histórica até aqui, o Nucoin estava com R$ 21 bilhões de valor de mercado diluído, o que totaliza aproximadamente 2/3 do que tem a Polygon. E, segundo o tokenomics do lightpaper, 16,4 milhões de tokens podem ser distribuídos por dia como recompensa, o que dá aproximadamente R$ 103 milhões por mês de inflação.
6) Vale a pena investir na Nucoin?
A verdade é que, hoje, talvez a Nucoin faça algum sentido apenas da perspectiva de alguém que já é cliente do Nubank. Mas ela não faz tanto sentido assim dentro da nossa análise como uma alternativa de investimento. É uma estratégia interessante apenas para tentar atrair novos clientes e criar uma reserva, tangibilizando em um valor financeiro todo esse poder de captação.
Hoje, os benefícios oferecidos são basicamente cashbacks em nucoins. No futuro, tudo dependerá, no entanto, de como o Nubank coordenará esforços para gerar um aumento da demanda pelo token, o que passa pela atração de novos “patrocinadores” e de potenciais novos casos de uso para o ativo na sua rede própria que, reforçamos, ainda não possui quaisquer informações claras.
Digamos que o NCN está muito mais para um token de fidelidade, onde o intuito do projeto é trazer benefícios que, óbvio, fidelizem o cliente e/ou os fãs de determinada marca no futuro.
Outro ponto negativo é a possibilidade do Nubank poder controlar as negociações da moeda e pausá-las a qualquer momento, o que está estabelecido nos próprios termos de uso. Foi exatamente o que aconteceu no último final de semana, onde os usuários viram seus tokens valorizarem e não puderam vender.
Há, também, a previsão por um “limite de negociação”, onde o Nubank poderá, a qualquer tempo, estabelecer esse limite em quantidade ou valor de Nucoins durante determinado período de tempo, influenciando totalmente na dinâmica de mercado.
