Nos últimos dias a companhia 123 milhas ganhou os holofotes (de forma negativa) após entrar com um pedido de recuperação judicial de dívidas no montante de R$2,3 bilhões, pedindo a suspensão das cobranças judiciais de credores e consumidores por um prazo de 180 dias. Com isso, as ações da CVC Brasil (CVCB3) avançaram entre os dias 29 e 30 de agosto.
Uma das hipóteses para o otimismo com a empresa, é justamente a “saída” da 123 milhas deste mercado. Do dia 29 ao dia 30 as ações de ticker CVCB3 apresentaram uma rentabilidade de 23,08%, enquanto ontem (31 de agosto), caem em pouco mais de 8%.
Fonte: Google Finance
Mas afinal, a CVC realmente irá capturar o mercado da 123 milhas?
Ainda não há uma resposta para essa pergunta, mas para ter a perspectiva, é importante ressaltar alguns pontos.
Por exemplo, embora a CVC também possua um pé no digital, parte de suas operações são físicas, com mais de 1.200 lojas franqueadas no Brasil e na Argentina e cerca de 3.200 colaboradores, enquanto isso, o foco da 123 milhas é no digital.
Na apresentação de Perfil Corporativo, a CVC ressalta o que realmente importa para a companhia, dentre esses pilares, está a “Orientação total para clientes[…]” e “O mundo é digital, mas a viagem continua presencial, e estaremos disponíveis onde o cliente quiser e estiver.”
Com isso, nota-se um primeiro obstáculo para a captura do mercado da rival, o foco das duas companhias parecem diferir, e apesar de não ser um impeditivo, é algo que pode dificultar, especialmente se levado em consideração a situação financeira da CVC Brasil, e que uma expansão para atrair mais clientes pode ser custosa.
Em segundo lugar, vale destacar o mercado altamente competitivo no setor de Viagens e Lazer. Atualmente, há dezenas de sites e plataformas que vendem passagens aéreas e/ou oferecem serviços de pacotes de viagens, hotéis e afins.
Portanto, é difícil acreditar que apenas uma dessas empresas irá conseguir conquistar a maior parte da fatia deixada pela 123 milhas.
A situação da CVC Brasil (CVCB3):
Sabemos que o segmento é desafiador e fortemente competitivo, o que já dificulta as operações da CVC Brasil, ainda, outro fator que impulsionou a queda de seus resultados, foi a pandemia ocorrida em 2020. Desde então, a companhia não conseguiu alcançar uma receita líquida no mesmo montante de 2019, e apresentou prejuízos constantes.
Lucro Líquido – ações da CVC Brasil (CVCB3)
Fonte: Status Invest
No último trimestre, a companhia apresentou um EBITDA negativo de R$1,5 milhões, mas no semestre, seu lucro operacional foi positivo, atingindo o montante de R$14,1 milhões, com uma margem EBITDA de apenas 2%. Vale reforçar que há uma certa sazonalidade, e o segundo semestre do ano tende a apresentar resultados mais fortes.
Fonte: RI CVC Brasil
Atualmente, a companhia possui uma dívida bruta de R$891,9 milhões e um caixa de R$646,1 milhões, resultando em uma dívida líquida de R$245 milhões. No trimestre, a geração de caixa operacional negativa e os investimentos realizados (CAPEX), juntamente com a dívida, impulsionou negativamente o caixa da companhia, mas que terminou com um aumento expressivo devido ao aumento de capital realizado.
Fonte: CVC Brasil
Mesmo com o caixa atual, levantado pelo follow-on recente, é difícil dizer que sua estrutura de capital está robusta, já que suas operações podem consumir parte deste caixa.
O caixa cobre as amortizações da dívida até 2025, será que até lá a companhia irá conseguir gerar caixa ou terá que recorrer a um novo aumento de capital ou emissões de dívida?
Fonte: CVC Brasil
Em sua apresentação de resultados do 2T23, a CVC Brasil traçou os próximos passos para suas operações. A companhia visa uma estratégia de crescimento “disciplinada”, buscando expansão e rentabilidade. Para isso, a companhia indica uma expansão em vendas, juntamente com melhoria do mix de produtos e redução de suas despesas.
Fonte: RI CVC Brasil
Mesmo com o plano de melhoria das operações e a saída de um player desse mercado, acreditamos que o cenário para CVC Brasil continua nebuloso e desafiador.
