Computadores da China quebraram criptografia! Bitcoin está ameaçado?

China criptografia

Nesta semana, a comunidade de criptomoedas ficou apreensiva com a notícia de que a China teria quebrado criptografia usando computadores quânticos.

Mas o que será que isso significa na prática?

 

Antes de mais nada, se você é novo neste meio, vamos abordar algumas questões preliminares para construir o raciocínio.

A criptografia, que vem do grego “Kryptos” (escondido) + “Graphein (escrita)” é um dos pilares centrais de sustentação de uma blockchain. Em síntese, ela consiste em uma técnica de embaralhamento e codificação de informações para que não seja possível a leitura desses dados em caso de interceptação.

 

Origens da criptografia

Essa preocupação não vem de hoje, seja por motivos de guerra, razões políticas ou quaisquer outros fatores. Por volta de 500 a.C. foram encontradas cifras hebraicas que utilizavam sistemas de substituição simples. Pouco tempo depois, militares gregos passaram a usar mensagens escritas em uma espécie de papiro de couro com letras que só poderiam ser ordenadas e compreendidas corretamente com o uso de um bastão especial chamado de “Bastão de Licurgo”.

foto do Bastão de Licurgo e sua relação com o caso na China

À época, obviamente ainda não haviam dado esse nome, mas essa era uma forma evidente de criptografia mecânica. Talvez você esteja se questionando:

Mas não seria possível reproduzir esse bastão?

 

E a resposta é “sim”. Uma pessoa com tempo e conhecimento suficientes poderia forjar este item de diversos tamanhos diferentes para, por tentativa e erro, acertar a medida capaz de “descriptografar” a mensagem.

 

Segunda Guerra Mundial

Já na Segunda Guerra mundial, a comunicação entre os alemães nos “fronts” de batalha e as embarcações acontecia por meio de uma máquina criptográfica chamada ENIGMA, que embaralhava as letras de forma que apenas um destinatário que também tivesse outra máquina ENIGMA seria capaz de compreender a mensagem.

Além disso, era possível mudar a forma de embaralhamento diariamente, o que tornava muito mais difícil a compreensão pelos interceptadores.

Isso levou os países Aliados a patrocinarem a criação de uma máquina chamada “Bomba”, desenvolvida por Alan Turing, que permitiu a decifração dos códigos da ENIGMA. A Máquina de Turing é famosa até hoje e é tida como um dos principais fatores atribuídos à vitória dos Aliados na 2ª Guerra.

foto de uma antiga máquina de criptografia e sua relação com o caso na China

 

Criptografia atualmente e episódio ocorrido na China

A criptografia atual é extremamente mais desenvolvida do que a daquela época. Para fins de comparação, uma inteligência artificial conseguiria decifrar a ENIGMA em aproximadamente 10 minutos. Isso acontece porque, hoje, a criptografia moderna utiliza um modelo que chamamos de “criptografia assimétrica”, que basicamente consiste na utilização de duas chaves distintas, uma pública – que pode ser divulgada e é usada para criptografar – e uma privada – que deve ser mantida em sigilo pelo dono e é usada para descriptografar.

Os detalhes são bastante técnicos, mas o importante é saber que esse tipo de criptografia é impossível de ser quebrado por qualquer computador existente hoje, com potencial exceção dos computadores quânticos, motivo pelo qual a notícia dos chineses assustou tanto a comunidade.

 

Computadores quânticos da China realmente quebraram a criptografia?

Existem alguns algoritmos diferentes de criptografia assimétrica que podem ser utilizados hoje. O principal deles é chamado de “Rivest-Shamir-Adleman (RSA)” em homenagem aos sobrenomes de seus inventores. Hoje, o “gold standard” são os padrões RSA-1024 e RSA-2048, existindo inclusive recompensas financeiras para quem conseguir quebrá-los.

O RSA pode ser empregado com níveis de dificuldade diferentes, assim como uma senha pode ser mais ou menos segura dependendo de seu tamanho e dos diferentes caracteres. No entanto, se por um lado uma senha mais longa apresenta maior segurança, também dá mais trabalho de digitar.

Isso significa que um RSA com dificuldade muito alta é muito seguro, mas também exige um enorme esforço computacional. Com isso, desde os anos 1990, os computadores têm se aperfeiçoado e ficado cada vez mais rápidos, permitindo e demandando que se aumente também a dificuldade do RSA.

O fato é que, até hoje, o máximo que já foi quebrado foi o padrão RSA-829, que é muitas e muitas vezes menos seguro do que um RSA-1024 ou RSA-2048. O que os chineses conseguiram quebrar até agora não chegou nem perto desse nível de dificuldade. O que os pesquisadores disseram ter sido capazes de quebrar foi o RSA de 48 bits usando um sistema híbrido baseado em computador quântico de 10 qubits, alegando que poderiam fazer o mesmo para 2048 bits se tivessem acesso a um computador quântico de 372 qubits.

Ou seja, o que eles têm até agora é, na verdade, um ensaio estipulando que, teoricamente, um dia pode ser que se quebre esse “gold-standard” que citamos. Com certeza vale o alerta e o monitoramento da situação, mas, por ora, não há motivo para desespero. E ainda que houvesse, provavelmente o mercado crypto será nossa última preocupação, tendo em vista que grande parte do mundo da segurança cibernética como conhecemos hoje depende da utilização desses algoritmos, como por exemplo o próprio sistema bancário tradicional.

Além disso, alguns estudos estimam que os computadores quânticos só serão uma ameaça para o Bitcoin quando atingirem 4.000 qubits. Já outros apontam que uma transação só poderia ser interceptada por um computador quântico com 317 milhões a 1,9 bilhão de qubits, números infinitamente distantes do que vemos hoje.

Caio Goetze

Formado em Direito pela PUC-RJ e pós-graduando em Direito Digital pelo Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS) em parceria com a UERJ, conta com 3 anos de experiência e diversos cursos de formação acadêmica de bagagem no “criptomercado”.

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