Os preços das remessas da nova safra dos EUA estão subindo devido às expectativas de oferta reduzida, o que pode contribuir para o aumento da demanda chinesa por soja brasileira entre setembro e dezembro. Assim, após uma colheita abundante no Brasil, espera-se que haja uma maior disponibilidade de grãos no final do ano, diminuindo as preocupações com a escassez global de oferta após o menor plantio nos EUA e a diminuição da produção na Argentina, afetada pela seca no início do ano.
Dito de outra forma, enquanto a safra dos EUA é substancialmente incerta, o Brasil tem muita disponibilidade de grão para embarcar, podendo aproveitar do contexto a seu favor. E essa dinâmica pode quebrar um paradigma comum na indústria agrícola, uma vez que, normalmente, a soja recém-colhida dos EUA é quem domina as exportações globais a partir de setembro uma vez que a temporada de exportação brasileira, ativa a partir do segundo trimestre, chega ao fim.
Neste contexto, onde o Brasil, principal exportador mundial de soja, colheu uma safra recorde de cerca de 155,7 milhões de toneladas, enquanto a produção dos EUA enfrenta desafios devido ao menor plantio e às condições climáticas adversas, temos grandes importadores chineses que já estão realizando pedidos ativos de cargas brasileiras para setembro e outubro, aproveitando-se dos preços mais baixos oferecidos por aqui em relação aos EUA.
Além disso, a qualidade dos grãos brasileiros, que possuem maior teor de proteína em comparação com a soja dos EUA, torna-os mais atrativos para os compradores, que normalmente pagam prêmios que variam de US$ 12,00 a US$ 15,00 por tonelada.
Dado o cenário, vale traçarmos as projeções da USDA para os EUA, que indicam uma produção abundante no país, impulsionada por rendimentos recordes de 52 bushels por acre, compensando o menor plantio deste ano. Contudo, pode ser que vejamos os rendimentos reais sendo menores do que os estimados devido ao já mencionado clima seco em partes importantes do Centro-Oeste, que está afetando a safra antes de uma fase crucial de desenvolvimento em agosto.
Sobre o tema, vale destacar que, no último final de semana, o tempo seco afetou também o Norte e o Oeste do Corn Belt, com sensíveis chuvas localizadas mais ao leste atingindo especificamente estados como Indiana, Ohio e Illinois. As previsões divulgadas pela Europa e pelos Estados Unidos mostram chuvas bem abaixo do normal para os próximos 10 dias, período onde a soja está no início da fase de floração e formação de vagem na terra do Tio Sam.
Em contrapartida, no primeiro semestre deste ano, as exportações brasileiras de produtos do agronegócio alcançaram o valor recorde de US$ 82,80 bilhões, crescimento de 4,5% na comparação com o primeiro semestre de 2022 (US$ 79,24 bilhões), sendo US$ 15,54 bi só em junho. Assim, a participação das exportações do agronegócio no total da balança comercial de junho foi de quase 52%.
Em consequência do cenário complicado dos EUA, portanto, os preços estão subindo, e a expectativa é que possam aumentar ainda mais se as condições de seca persistirem no próximo mês. Atualmente, a soja brasileira para embarque rumo à China em outubro está sendo ofertada a US$ 576/tonelada, incluindo custos e frete, enquanto os carregamentos dos EUA estão cotados acima de US$ 580/tonelada.
A relevância do tema é grande dado o tamanho do mercado consumidor chinês, onde o país importou 10,27 milhões de toneladas de soja em junho, um aumento de 24,50% em relação ao ano anterior, impulsionado por grandes compras de grãos brasileiros a preços competitivos.
