Os conflitos geopolíticos e militares entre Rússia e Ucrânia tem ganhado novos contornos. Em março, militares russos dominaram a maior usina nuclear da Europa localizada em Zaporizhzhia, na Ucrânia, gerando apreensão e alegações de realização de operações de bandeira falsa após bombardeios realizados no local, meses depois.
Após muita negociação, uma equipe da International Atomic Energy Agency (IAEA) foi até a usina para avaliar e inspecionar a situação, constatando haver danos estruturais e que tangenciavam locais de armazenamento de combustíveis, de materiais radioativos e de resfriamento dos reatores. Uma equipe de operadores ucranianos é mantida trabalhando forçadamente pelos russos.
Dado o contexto, sabemos das diversas sanções econômicas e políticas que a Rússia vem sofrendo, inclusive com relação ao rublo. Como retaliação, no dia 5 de setembro, o país fechou o gasoduto Nord Stream 1, maior responsável pelo fornecimento de gás para a Europa que acontece por meio da Alemanha. Vale lembrar que Moscou foi responsável pelo fornecimento de 40% do gás natural da continente no ano passado.
Soma-se a isso o contexto macroeconômico totalmente desfavorável com inflação nas alturas, inclusive com o Euro atingindo mínimas de 20 anos em relação ao dólar. Como resultado, as criptomoedas tem ganhado destaque nessa nova conjuntura geopolítica, e o mundo passa progressivamente a ver a necessidade por uma moeda sem bandeira e deflacionária como o bitcoin. Talvez a ficha ainda não tenha caído, mas é o que a prática vem demonstrando.
Deixando opiniões subjetivas sobre os envolvidos na guerra de lado e avaliando a eficiência do Bitcoin em seu propósito, vimos o Banco Central Russo, após prolongada resistência em aceitar criptomoedas como meio de pagamento, rever sua posição e considerar o ativo como inevitável nas atuais condições geopolíticas de guerra e sanção, concordando com o Ministério das Finanças sobre a legalização do ativo.
Na outra ponta, a dinâmica também é verdadeira. Com o sistema bancário da Ucrânia praticamente fora do ar em consequência do conflito, principalmente nas áreas mais afetadas, os pagamentos eletrônicos se tornaram indisponíveis para milhões de pessoas enquanto a escassez de dinheiro e os problemas com caixas eletrônicos também dificultaram as transações para cidadãos comuns. Isso impedia, também, a possibilidade de apoiar o exército do país e os grupos mais vulneráveis. E a saída também foi recorrer ao Bitcoin: vimos milhões de dólares recebidos pela rede.
No entanto, não é somente o atual conflito que reforça essa tese da necessidade do ativo. Em fevereiro, os principais bancos canadenses ficaram offline por horas, bloqueando o acesso a serviços bancários online e mobile, bem como transferências eletrônicas para clientes. Os principais bancos atingidos pela interrupção foram o Royal Bank of Canada (RBC), BMO (Bank of Montreal), Scotiabank e o Canadian Imperial Bank of Commerce (CIBC). Mais uma vez, sabe o que continuou funcionando perfeitamente? Acertou se pensou na rede Bitcoin.
Mais recentemente e talvez o mais simbólico dos atos, em julho, a China colocou tanques nas ruas para proteger os bancos do país das indignações dos manifestantes que tiveram suas contas congeladas. O movimento contra o sistema bancário atual é crescente e inevitável. Escrevo isso um dia após comemorarmos a independência de 200 anos do Brasil, mas esquecemos que a real e integral independência se faz mesmo com liberdade, inclusive financeira.